Prisão de operadores de balsas confirma elo entre crime organizado e devastação ambiental, expondo falhas na soberania da Amazônia Legal.
Por Samir Machado
A Polícia Federal (PF) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) prenderam nesta terça-feira, 12 de novembro de 2025, homens que operavam balsas de garimpo ilegal em Mato Grosso. A prisão não é um caso isolado de crime ambiental, mas sim mais uma peça que confirma a perigosa diversificação da principal facção criminosa em atuação no estado, o Comando Vermelho (CV), no rentável e destrutivo negócio da extração ilegal de ouro.
O crime organizado em Mato Grosso já não se limita ao tráfico de drogas e à extorsão; ele se consolidou como uma organização empresarial que, além de aplicar sua "disciplina" em Várzea Grande, agora domina o ciclo produtivo do ouro ilegal, desde a extração até o escoamento, em regiões críticas como as terras indígenas Sararé e as bacias hidrográficas.
A Conexão Ouro-Facção
A operação das balsas ilegais, muitas delas no Rio Teles Pires ou em afluentes da Terra Indígena Sararé, revela o avanço do CV sobre a Amazônia Legal e áreas protegidas.
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A Extorsão do "Imposto do Ouro": Relatórios de investigações, como a "Operação Primatus" em Aripuanã, demonstraram que o CV não apenas participa do garimpo, mas cobra um "imposto" sobre a produção ilegal de outros garimpeiros. Essa tática de extorsão territorial consolida o Domínio Social Estruturado — o mesmo conceito que o PL Anti Facção busca tipificar.
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Lavagem de Dinheiro: O ouro, por seu alto valor e facilidade de comercialização, tornou-se o principal vetor de lavagem de dinheiro da facção. A extração ilegal financia armas, logística e o crescimento do poder paralelo do crime organizado em todo o Centro-Oeste e Norte do país.
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O Arsenal de Guerra: A desarticulação de grandes garimpos ilegais, como o "Garimpo do Cururu" (controlado pelo CV em terra indígena), frequentemente resulta na apreensão de armamentos de uso restrito e na descoberta de bunkers subterrâneos. Isso demonstra que as facções estão dispostas a usar força militar para manter o controle sobre o recurso mineral, transformando áreas de preservação em zonas de conflito .
OPINIÃO
O Garimpo Ilegal é o Terrorismo Econômico que o PL Anti Facção Deve Enfrentar
O flagrante de balsas ligadas a facções em Mato Grosso, somado ao sequestro por "disciplina" em Várzea Grande, desenha um quadro de terrorismo não apenas social, mas econômico e ambiental. O crime organizado ataca a soberania nacional por meio da devastação ambiental, financiando-se com a riqueza escoada dos rios e terras indígenas.
A defesa da democracia passa por descapitalizar o crime. O ouro roubado da Amazônia Legal, que financia a "disciplina" e as armas do CV em Mato Grosso, deve ser o alvo prioritário da nova legislação. Qualquer emenda que proteja os financiadores ou limite a autonomia da PF em investigar esse fluxo financeiro é um ato de colaboração indireta com a facção. O momento exige coragem e uma lei sem as amarras da política miúda.


Embarcação apresentava vestígios de atividade garimpeira. — Foto: BPMPA





