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06 de dezembro de 2025

Justiça Paralela do CV Atinge Várzea Grande

POLICIA 12/11/2025 08:24

Sequestro para 'disciplina' da facção expõe fragilidade da segurança pública de Mato Grosso após ação e prisões.

Por Samir Machado

Suspeitos ligados ao Comando Vermelho (CV) foram presos nesta terça-feira, 12 de novembro de 2025, em Várzea Grande (MT), após supostamente sequestrarem duas pessoas com o objetivo de aplicar a "disciplina" da facção. O caso, registrado na região metropolitana de Cuiabá, não é apenas um crime de sequestro; é o mais recente e alarmante indicativo de que a organização criminosa consolidou um verdadeiro Estado Paralelo em Mato Grosso, operando com regras, hierarquia e um sistema de "justiça" próprio, alheio e desafiador às instituições democráticas.

O modus operandi é cristalino e expõe a ineficiência crônica do combate estrutural ao crime organizado no estado.

A Estrutura da Soberania Criminosa

O sequestro em Várzea Grande, que visava a "disciplina", revela a operacionalização de um dos "cargos" mais temidos dentro da facção, conforme reiteradamente apontado por operações do Ministério Público e do Gaeco em Mato Grosso.

  • A Função "Disciplina": Este posto não é meramente punitivo; é a garantia de ordem interna e obediência. Os detentores da "Disciplina" atuam como juízes, investigadores e executores de sentenças, punindo desde dívidas do tráfico até deslizes contra o código de conduta imposto pelo CV. As vítimas deste sequestro, portanto, não foram alvo de um crime comum, mas de uma coerção institucionalizada pela organização.

  • O Alcance em Mato Grosso: As prisões e denúncias de membros do CV em cidades como Rondonópolis, Barra do Garças e na própria Baixada Cuiabana, sempre esbarram na figura do "Disciplina". Isso demonstra a capilaridade da facção, que possui frentes de administração financeira, cadastro de membros (o infame "Tabuleiro de Numerada") e uma capacidade logística de ditar regras e movimentar recursos, muitas vezes de dentro dos presídios.

  • O Alerta Ignorado: "Não estamos falando de bandidos isolados, mas de uma organização com estrutura corporativa que impõe seu poder em vastas áreas do estado", ressaltou uma fonte ligada à segurança pública, em caráter reservado. O fato de o CV atuar abertamente em Várzea Grande, uma das maiores cidades do estado, utilizando o sequestro como ferramenta de "controle social" interno, exige uma profunda e imediata reflexão sobre a soberania territorial.

OPINIÃO

 

PL AntiFacção é Urgente, Mas Não Pode Ser Boicotado pela Política

O caso de Várzea Grande, onde o Comando Vermelho sequestra para impor sua "disciplina", é a prova cabal de que o Brasil – e, em particular, Mato Grosso – precisa urgentemente do Projeto de Lei nº 5.582/2025, o PL AntiFacção, que tramita no Congresso Nacional. Esta legislação não é apenas um adendo ao Código Penal, mas sim a tentativa, ainda que tardia, de o Estado se equiparar à sofisticação do crime organizado.

A proposta de criar o crime de Domínio Social Estruturado (DSE), com penas elevadas e foco na liderança criminosa, é o único instrumento legal que tipifica precisamente o que o CV praticou contra as duas vítimas em Várzea Grande: o uso da violência para impor controle e obstruir a atuação da Justiça comum. Não se trata de tráfico de drogas, mas de um ato de governança paralela.

Entretanto, o que assistimos no Congresso é o pior do debate político: a disputa de poder ameaçando desfigurar a eficácia da lei. As articulações recentes (como as tentativas de limitar o poder de investigação da Polícia Federal sem pedido expresso dos governadores) são um tiro no pé da segurança pública nacional. A Receita Federal e a própria PF alertaram: o combate à facção exige o estrangulamento financeiro, o ataque direto à lavagem de dinheiro e ao lucro.

O Comando Vermelho em Mato Grosso é uma potência econômica que arrecada com o tráfico e roubos. Se a PF, que detém a expertise em cooperação internacional e rastreamento de grandes fluxos financeiros, tiver sua autonomia cerceada por burocracias políticas ou pela inação de gestores estaduais, o PL AntiFacção corre o risco de virar uma lei de papel.

Não basta endurecer a pena; é preciso descapitalizar e desarticular a hierarquia.

A prisão dos suspeitos em Várzea Grande foi uma vitória tática da Polícia, mas a derrota estratégica se consolida a cada dia que o Congresso adia a aprovação de uma lei que, em sua essência, deveria ser o "arsenal antissistema". É um dever moral do Parlamento garantir que o PL seja aprovado em sua versão mais robusta, protegendo a atuação coordenada da PF, do Ministério Público, das Polícias Estaduais e dos bancos de dados.

Qualquer alteração que enfraqueça o ataque ao patrimônio e à coordenação federal é, na prática, um presente para as facções criminosas que governam as prisões e periferias de Mato Grosso, aplicando sua "disciplina" com a certeza da impunidade estrutural. O Estado democrático precisa reafirmar sua soberania antes que seja tarde demais.


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